Weapons (BR: Hora do Mal, PT: Hora do desaparecimento) é uma reinvenção do conto do flautista de Hamlin sobre o maior medo de quem tem filhos. Em vez de uma vingança como no caso do flautista, é um plano maléfico pela longevidade.
No género do terror, a história é contada pelo ponto de vista de diversos personagens, nos a montar um puzzle. As peças se vão juntando até que finalmente sabemos tudo o que aconteceu e porque aconteceu. Uma por uma, as personagens vão contando o que aconteceu naquela noite e nas seguintes, até que chegamos à última, a criança que não desapareceu. A narrativa se torna muito interessante, com as intersecções entre as personagens e novos elementos que vão surgindo.
A figura do flautista é apresentada na figura da Aunt Gladys e que, em vez de uma música, ela subjuga as crianças através de um ritual mágico.
Ao contrário do flautista, cujo motivo da vingança era claro, foi o não pagamento dos seus serviços, os motivos de Gladys só são sabidos muito mais tarde e são puramente egoístas. A personagem de Gladys é nos apresentada como uma pessoa muito doente e à beira da morte, só que a aparente fragilidade esconde um ímpeto macabro. A única coisa que ela se importa é a sua sobrevivência, nem que isso seja feito às custas das crianças que ela raptou durante a noite ou das pessoas que estão à sua volta.
O filme tem cenas de gore explícito, com a cena do atropelamento, as cabeçadas, e, apesar de não ser gore absoluto, tem ainda algumas coisas com agulhas que me deixam contorcido na cadeira quando elas ficam espetadas na cara de um dos personagens.
O filme usa medos primitivos, como o mal que pode atingir os filhos, mas também a falta de controlo sobre o corpo e a vida e ainda o terror sobrenatural. Este é uma reinterpretação de um conto clássico despojado de moralismos onde o poder e o controlo são usados para sobreviver. No fim, Weapons nos leva a perguntar: será Aunt Gladys a representação do mal ou a sua luta pela sobrevivência um reflexo de nós?
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